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Cacauicultura #parte2

Tudo que você, agricultor, precisa saber para obter sucesso com o plantio e cultivo do cacau!


Cabruca vem da frase "vem cá brocar" a mata para plantar o cacaueiro. Cabrocar, cabrocamento, cabroca, cabruca!


 


Viveiro:


as mudas podem ser de sementes ou vegetativas (clones), de variedades de alta produtividade e resistentes à vassoura de bruxa.


1. Tipo de viveiro: depende do objetivo e quantidade produzido, podendo ser:


a) Provisório: período curto de tempo até o plantio, materiais utilizados são palhas, sombrite, bambu, etc.


b) Permanente: grande quantidade de mudas, de alvenaria ou madeira, brita, etc. Pode ser fechado, ter canteiro ou mudas suspensas.


2. Local: avaliar a inclinação (até 3%), drenagem, fonte d'água, eletricidade, proximidade da área de plantio, proteção do viveiro.


3. Dimensione o viveiro: área suficiente para o objetivo, local para embalamento e envio, depósito de material e ferramenta, etc.


4. Número de canteiro e área ocupada: deve saber a quantidade de mudas. Medidas padrão de canteiros para mudas em sacos plásticos são 1 x 10 m, com corredores de 0,8 m e cerca de 1,20 m de largura. Acrescenta 10% na quantidade de mudas produzidas, considerando as perdas.


5. Instalação: marque a área dos canteiros, cercas, coberturas, etc. Marque piquetes, faça ângulos de 90º para alinhar as laterais, a distância entre piquetes serão os canteiros e corredores, marque as laterais, e construa o viveiro. A altura da cobertura de canteira é de 2 m no máximo.


Materiais para construção: trena, piquetes, balizas, marreta/martelo.


Materiais para mudas: sacos plásticos, tubetes, frutos maduros (sementes), balde, peneira, areia ou pó de serra, água, facão, substrato, pá/enxada, sementeira, regador/sistema de irrigação.


6. Mudas: avalie qualidade, vigor, sanidade, 5-8 folhas, caule com mínimo 0,7 cm de diâmtro, idade de 4 a 6 meses. Clones de porta-enxerto: TSH 1188, CEPEC 2002, Pará, Parazinho.


a) Selecione frutos maduros, limpe e colete sementes do centro.


b) Coloque-as em balde com água, escolha as que afundam, limpe-as da polpa.


c) Seque-as com vento e sombra por 24h.


d) Plante em sementeira, com substrato de serragem e areia 2:1.


e) Irrigue e prepara os recipientes com substrato orgânico (livre de pragas/daninhas e rico em nutrientes).


f) Transplante a semente germinada na sementeira para o recipiente.


g) Posicione no canteiro dentro do viveiro, irrigue.


h) Realize tratos culturais (remoção de daninhas, controle de pragas, irrigação 2x/dia, 50% de luminosidade) e monitore.


O processo para mudas enxertadas é semelhante, envolvendo a coleta de material vegetativo com ferramentas adequadas (canivete, tesoura de poda, fita plástica branca), mudas do porta-enxerto, acondicionamento dos ramos e a enxertia (fenda cheia, garfagem em fenda ou "mão de amigo", ou em plantas adultas com brotos basais ou de topo).


Para estaquia, coleta-se material vegetativo, transporta-se para o viveiro, prepara-se os recipientes, pode-se utilizar enraizadores (como o ácido indolbutírico AIB), a estaquia e tratos culturais.


 


Implantação da Lavoura


1. Área de cultivo: proximidade do mercado consumidor, topografia, eletricidade, clima:


- Clima: chuvas de 1500 mm distribuidas pelo ano, boa luminosidade, temperatura acima de 21ºC, ventos fracos.
- Solo: mais profundo que 1 m, textura média (areno ou argilo), não encharcados e com boa drenagem, livre de compactação, rico em matéria orgânica.
- Relevo: fontes de água disponíveis, plano ou levemente ondulado, ou em curva de nível.
- Outros: quebra ventos, próximo ao mercado consumidor.


Dimensionamento da área: meça e divida área, facilitando o manejo e práticas culturais e colheita. Considere estradas e utilize ferramentas (trena, corda, piquete, GPS).


Amostragem no solo: em zigue zague, colete 15 amostras por hectare, de 20 cm e de 40 cm de profundidade. Cada amostra deve conter de 300 a 500 g de solo. Identifique e envie para o laboratório de solos.


Limpeza e preparo da área:


- Aração
- Gradagem
- Sulcamento
- Subsolagem


Correção do solo


- Calagem
- Gessagem


Sistema de Cultivo


- Curvas de nível, terraços e patamares
- Valas para drenagem
- Cultivo demarcado, com balizamento respeitando espaçamento, topografia e sistema de produção
- Sombreamento provisório ou definitivo
- Sistema de irrigação: aspersores ou gotejamento
- Covas com tamanho 40 x 40 x 40 cm, de forma manual ou mecanizada


Cobertura morta:  em volta da muda plantada, utilizando material seco (capim, palhada, etc)


Tutoramento/sombreamento e irrigação no plantio


 


Controle de pragas e tratos culturais:


a) Correção do solo: cálcario, gesso. O pH do solo deve ser 6,0. Aplicação de calcário em toda a área e em cobertura. Gesso em cobertura. Calcula-se a correção e adubação com base na análise química do solo.


b) Adubação: fertilizantes químicos (uréia, superfosfato, cloreto de potássio) ou adubos orgânicos (esterco, cama de aves, compostagem) no viveiro, no plantio, nas plantas jovens e adultas. Após calcular a quantidade de adubos para as fases de desenvolvimento, divida a aplicação em 3 aplicações nos 60 dias após o plantio. Após o terceiro ano, divida em 2 aplicações.


Macros: NPK, Ca, Mg, S. 


Micros: Fe, Cu, Zn, B, Mn.


c) Poda: existem podas de formação (3 a 4 galhos principais), condução (retirada de brotos e ramos novos verticais), produção (formato de taça e observa-se altura e largura) e fitossanitária (retirada de galhos secos, doentes, atacados). Com foco em arejamento, luminosidade e evitar autossombreamento e grandes alturas das plantas. Utilize ferramentas adequadas e higienizadas.


d) Irrigação: o cacaueiro necessita de 30 L de água/dia. Observe o pH, CE (condutividade elétrica), TSD (totais de sais dissolvidos) e íons. A irrigação pode ser localizada, aspersão, gotejamento e fertirrigação. Uma irrigação contém as seguintes partes: fonte de água, bomba, filtros, tubulação principal, tubulação de distribuição e tubulação com emissores.


 


Controle de Plantas Invasoras


Controla-se até o cacaueiro fechar a copa, tocando as próprias folhas. Implantação e manejo de sombreamento, utilização de cobertura morta, e roçagem manual ou mecanizada.


 


Controle Doenças


Vassoura de bruxa: superbrotamento foliar, aparecem vassouras vegetativas e flores anormais. Ataca desde o viveiro até a planta adulta. Remova os galhos/brotos infectados, utilize espécies resistentes, faça compostagem e utilize Trichoderma, como controle químico utilize óxido cuproso.


Podridão parda: pequenas lesões nos frutos com cor castanha e cheiro de peixe. Remova frutos infectados, colheita frequente, reduza sombreamento, melhore a poda e drenagem do solo, use variedades resistentes, e fungicidas cúpricos.


Mal do Facão: murcha, amarelecimento e seca. Desinfecte as ferramentas e combata as brocas.


 


Controle de Pragas


Monalônio: percevejo de cor marrom. Monitore o período de formação do fruto e frutificação. Verifique 5 frutos/planta, aparecendo 1 fruto com ninfa/adulto é necessário controle na área. O intervalo de amostragem é de no máximo 15 dias. Sombreamento reduz o ataque, controle somente a área atacada, utilize caldas inseticidas.


Trípes: de cor preta, pequeno, vive em grupos e deixa manchas amareladas em folhas, também provoca ferrugem nos frutos. Aparece em estiagem ou ausência de sombreamento. Monitore a cada 2 semanas, no período de frutificação, 20 plantas/5 ha e conte o número de insetos/planta em 5 folhas maduras. Melhore o sombreamento e utilize caldas inseticidas quando existirem 2 tripes/folha ou 10% de frutos com colônias.


Cigarrinha: cor castanha, vivem em grupo. Ao encontrar adultos ou ninfas em alta infestação, aplique Beauveria bassiana.


 


Colheita


Retire frutos maduros e sadios, corte talos de cima para baixo e armazene no balaio. Leve os frutos para um ponto estratégico, separe maduros, sadios e sem defeitos (com defeitos são compostados).


Materiais: facão, podão, tesoura de poda, coletor de frutos (bodoco), balaio/caixa plástica.


Quebre os frutos e retire as amêndoas, com cutelo e coloque-os em caixas de madeira/plástico, retire resíduos e pedúnculos. A caixa deve ser revestida com material limpo e coberta por outra lona para proteção de intempéries. Pode-se prensar as amêndoas frescas, antes da fermentação, para obter mel de cacau. Além do sistema manual, existe o sistema mecanizo, ocorrendo em uma unidade de beneficiamento e utilizando tratores ou animais de carga para transporte.


 


Fermentação 


O cocho de fermentação deve ser feito de material sem odores, possuir drenos com furos de 8 mm, espaçamento entre eles de 15 em 15 cm, dividido em pelo menos 2 compartimentos iguais. Medem 1,2 x 1 x 1 m, com paredes móveis ou fixas, capacidade para 900 kg de sementes frescas, furos de 8 mm de diâmetro no fundo e espaçamento 15 x 15 cm.


Quando encher um cocho, deixa-se o outro compartimento vazio para revolvimento com pás das sementes. Primeiro revolve-se 48 h após o enchimento e revira-se o cacau a a cada 24 h. O tempo de fermentação vai até 7 dias (variando conforme época de seca ou chuva).


Secagem


Reduz a umidade de 50 para 8%, de forma:


- Natural (vento e sol) em barcaças de 5 x 10 m, secando 1500 kg, distribuindo 30 kg de cacau mole/m2. Retire resíduos, forme camalhões com rodo dentado nos primeiros dias, e no terceiro use rodo liso, revolvendo a cada 2 horas, amontoando o cacau em pilhas em todas as tardes. Exponha o cacau de qualidade ao sol da manhã e cubra no horário mais quente e no final da tarde, até chegar aos 7% de umidade, evite pisar no cacau;
- Artificial (combustível): seca-se inicialmente na barcaça por 1 dia, depois utilize estufa solar ou secador tubular.
- Mista (combinação dos dois). Armazene ensacando 60 kg de amêndoas do cacau em compartimentos assoalhados e com paredes forradas, local arejado e presença de luz, não ultrapassando 90 dias e livre da presença de produtos químicos e com odores fortes, cubra os sacos com cobertura plástica.  


Classificação das amêndoas


Tipo 1: até 4% de mofo; até 1% de fumaça, até 4% danos por insetos, até 5% de ardósia, até 5% germinadas.


Tipo 2:  4-6% de mofo; até 1-4% de fumaça, até 4-6% danos por insetos, 5-10% de ardósia, 5-6% germinadas.


Tipo 3: 6-12% de mofo; até 4-6% de fumaça, até 6-8% danos por insetos, até 10-15% de ardósia, até 6-7% germinadas.


Fora de tipo: 12-25% de mofo; até +6% de fumaça, até +8% danos por insetos, até 5% de ardósia, até 5% germinadas.


Os nichos dividem-se em:


- cacau fino/de aroma;
- cacau orgânico;
- cacau com certificação de sustentabilidade;
- cacau de indicação de origem.


 


Classificação internacional


- Bulk: cacau não aromática, ou cacau padrão. Avaliado em teor de umidade, tamanho do grão e porcentagem de fermentação.
- Especiais: com certificação orgânica, "fair trade" (comércio justo) e Rain Forest.
- Fino: proveniente da variedade crioulo, trinitário ou nacional do Equador. Na indústria avaliam aromas originais, notas frutais, florais, amadeiradas, caramelizadas, etc. qualquer aroma pronunciado e delicado. Também utilizam a relação theobromina/cafeína como critério. Os aromas se dividem em 3: aroma de constituição (já vem da sua genética e está presente na amêndoa fresca), fermentação (semelhante ao vinho ou queijo onde microrganismos produzem substâncias que enriquecem os aromas) e térmico (forma durante a torrefação, no interior da semente, entrando em reação com a temperatura). Os fatores que influenciam a formação de aromas são: material genético, meio natural, colheita e pós-colheita, torrefação e a conchagem.


 


Tecnologia para cacau fino


a) Ponto ideal de maturação dos frutos e danos aos mesmos.


b) Numerar cada lote e não misturar sementes de quebras diferentes.


c) Controle da fermentação para cada variedade: crioulo 3 dias, trinitários 5 dias. Fermentar no mínimo 100 e no máximo 1000 kg de massa de cada por lote, com altura de 70 cm acondicionadas no cocho de madeira. Controle o revolvimento por tempo ou temperatura, use termômetro, controle temperatura do ambiente e inicial da massa. Verifique pH e acidez da polpa e cotilédone. Acompanhe as 2 principais fases: alcoólica anaeróbica (30 a 35ºC) e acética aeróbica (acima de 50ºC), dividindo o 1º revolvimento em 24h, o 2º em 48h, e o 3º em 96h.


d) Secagem: 100% natural utilizando barcaças e estufas solares. Enxuga-se a massa rapidamente na estufa e mantendo a temperatura desta em 35ºC, evitando perda da manteiga. A secagem dura entre 7 a 10 dias.


 


Beneficiamento e Subprodutos


Amêndoas: chocolate em tablete, pó, brigadeiros.


Mel de Cacau: licor de cacau, geléias, xaropes.


Polpa:  comestível do fruto, faz polpa congelada e geléias, após despolpamento, pasteurização e congelamento. Deve obedecer regulamento técnico de padrão de qualidade (Instrução Normativa nº 1, de janeiro de 2000, do Mapa). Quebre os frutos no mesmo dia que são colhidos, acondicione em sacos plástico e congele em até 2h, higienize e observe a qualidade. 


Casca: biscoitos, alimentação animal, biofertilizante, compostagem.


Cacau seco, semente fresca, vinagre, destilado, manteiga.


 


Beneficiamento e Subprodutos


Produtores, compradores, revendedores que de alguma forma viabilizam a cadeia produtiva do cacau, facilitando e especializando etapas dessa cadeia e aquisição de certificações socioambientais. 


A organização entre pessoas e comunitário é vital para que haja sustentabilidade local e alcançar mercados regionais, possivelmente internacionais.


 


Metodologias de organização


a) Planejamento; Monitoramento e Avaliação Participativa: deve estar de acordo com expectativa, sonho e aptidão da  comunidade. Visite antes da implantação e dialogue com a comunidade sobre sua história e realidade, conflitos, perspectiva e visão presente. Identifique liderança, grupos existentes, pensamentos de mulheres e jovens. Utilize ferramentas para o planejamento, utilizando dados levantados, cadastre os voluntários a participação direta, faça croquis e mapas das áreas, entreviste, faça oficinas e caminhadas com as famílias.


b) Aptidão do lote e da família: apresente os resultados à comunidade, planejando um uso futuro dos lotes com as famílias, inclua recursos e a implantação da proposta, tanto áreas novas quanto de cacaueiros decadentes, enriquecendo estas com espécies frutíferas e cultivos de ciclo curto, bianual e leguminosas. Verifique características que são pertinentes para família e para o técnico para execução e pesquisa, apresente os resultados e utilize indicadores participativos.


c) Uso múltiplo do lote: criar banco de sementes e viveiro de cacaueiros e outras espécies de múltiplos usos (leguminosas, comestíveis, melíferas, madeireiras, medicinais). 


d) Enriquecimento do sistema cabruca e formação de sistemas agroflorestais: quanto maior a biodiversidade, maior a gama de produtos e subprodutos. Verifique preferência de atividades (agricultura, pecuária, criações). Atente-se se todos entendem os indicadores e aplicar o roteiro de avaliação. Formar base de dados transformando lotes em áreas demonstrativas. Realize oficinas semestrais apresentando dados e discutindo com a comunidade.


e) Manejo agroecológico do cacaueiro, sucessão e manejo da biodiversidade: onde a comunidade participe de cada etapa, validando os métodos, realize dias de campo com mutirão na área


 


Desafios


- Avaliações de qualidade bioquímica  das amêndoas;
- Rede de compra e distribuição de produtos e subprodutos;
- Técnicas de irrigação/conservação do solo e produção de subprodutos;
- Busca e utilização de variedades resistentes a doenças, a seca, e qualidade organoléptica;
- Volume de produção;
- Produção de cacau orgânico e especial;

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