ManejeBem

Sistema Produtivo da Melancia

Conhecida como fruta, mas na verdade sendo uma hortaliça, a melancia (Citrillus lanatus) e sua cultura envolvem diversos setores de serviços, transporte, produção e comercialização de máquinas e equipamentos, insumos, ou seja, uma intensa geração de empregos, tornando-a uma cultura de relevante importância socioeconômica. O Brasil destaca-se como um dos principais produtores mundiais, junto de países como a China, Turquia, Irã e EUA. As regiões Nordeste e Sul destacam-se na produção nacional. O manejo adequado, técnicas de irrigação eficientes, fórmulas nutricionais adequadas, material genético adaptado ao clima tropical e o manejo de doenças e pragas são fatores que propiciam alta produtividade. Quer saber mais sobre a cultura da melancia? Clica aqui!

 


A cultura da melancia, baseada em indicadores econômicos, é de risco para o produtor, sendo necessário boa eficiência técnica para que se obtenha maior rentabilidade.


A melancia brasileira é quase totalmente escoada para a Europa, junto do melão, abacaxi e melancia sem sementes.


Clima e Condições Favoráveis


No Brasil, o cultivo da melancia é favorecido o ano inteiro. A época ideal para produção no Nordeste é entre julho e dezembro, sendo fundamental o uso da irrigação.


Ventos fortes influenciam negativamente a cultura, devendo-se evitar pulverização durante o preparo e estabelecer as fileiras das plantas na direção dos ventos predominantes. Utilizar quebra ventos (vegetação ou estruturas) é uma prática eficiente.


Conhecer o regime de precipitação da região é importante para escolha da data de plantio e manejo da cultura. Realiza-se o plantio na ausência de chuvas, evitando doenças, perdas na qualidade dos frutos e produtividade. A cultura da melancia possui um consumo hídrico de 300 a 500 mm por ciclo produtivo.



Características


O ciclo da melancia varia de 65 a 110 dias, divididos em 4 estádios: inicial (15-20 dias), vegetativo (15-30 dias), formação da produção (25-40) e maturação (15-20 dias). O estádio inicial é do plantio até início da ramificação; o vegetativo do início da ramificação até a floração; o de formação da produção engloba floração, frutificação e crescimento de frutos; e a maturação vai do desenvolvimento de frutos até a colheita.


A cultura possui uma demanda diária de água de 2 L durante o estádio inicial, e 25 L durante o estádio de formação da produção, dependendo de condições edafoclimáticas e espaçamento. A falta de água reduz a produtividade e qualidade dos frutos. O excesso de água favorece a ocorrência de doenças de solo e redução no teor de açúcares, e acarreta no rachamento dos frutos.


Melancias são vendidas por unidade e classificadas por tamanho, sem considerar o formato (redondas ou alongadas).


Cultura


Plantio/Semeadura:



  • Semeadura direta: método fácil, baixo custo, para cultivares de polinização aberta. Cerca de 0,5 - 1,0 kg de sementes/hectare. Profundidade de 2 - 3 cm. 2 a 3 sementes/cova, deixando uma plântula até os 25 dias de emergência.

  • Produção de mudas e transplantio: custo mais elevado, minimiza perdas para enxertos ou cultivos protegidos e sementes híbridas (diploides ou triploides). Cerca de 300 - 500 g/ha e reduz o ciclo a campo, propicia estande mais uniforme, cultivo em épocas desfavoráveis e diminuição de vírus. O substrato deve prover nutrientes, reter umidade, permitir troca gasosa e fixar as plântulas. O tamanho das células da bandeja deve ser o maior possível. As bandejas devem ser limpas e desinfetadas. A temperatura adequada para o desenvolvimento de mudas é 18 - 22ºC. As mudas podem ser condicionadas para o controle de altura e aumento de "dureza" através de escovamento, vibração, ventilação e impedimento mecânico. A enxertia reduz o ataque de fungos do solo, geralmente enxertadas em outras cucurbitáceas: porongo (Langenaria siceraria), abóbora cheirosa (Cucurbita moschata), abóbora-menina (C. maxima), na própria melancia ou em híbrido de C. maxima x C. moschata. Os métodos de enxertia são: fenda apical simples, encostia, perfuração apical e corte horizontal.


Sementes devem ser de alta qualidade, pois germinam rapidamente em uma plântula sadia. Observar:



  • Rótulo da embalagem;

  • Origem do material;

  • Qualidade física e fisiológica da semente;

  • Validade.


As sementes podem ser:



  • Tratadas: proteger de pragas e patógenos.

  • Peletizadas/peliculizadas: para nutrir e a plântula germinada.

  • Condicionamento osmótico: mergulhadas em água durante algumas horas para induzir a germinação; plantios em épocas/regiões de baixa temperatura; e uniformizar a germinação.

  • Escarificadas no tegumento: facilitar a absorção de água para germinar.


Sobre sementes, armazená-las em condições adequadas: embalagens fechadas (plásticas), com dessecante (sílica gel), em câmaras frias/refrigeradores, e analisadas antes de utilizá-las novamente.


A temperatura ótima para germinação é de aproximadamente entre 28 a 30ºC.


Para produção de mudas, utiliza-se ambiente controlado a fim de reduzir a oscilação da temperatura e umidade.


Cobre-se as sementes com substrato ou vermiculita na produção de mudas é essencial para manter a umidade. No campo, é recomendado irrigações frequentes no período inicial de estabelecimento.


Transplantio deve ser feito com mudas de alta qualidade: bem enraizadas, bom crescimento vegetativo, "duras", sem sintomas de deficiência nutricional, e sadias. Essas condições são obtidas em 2 a 3 semanas. Evita-se o transplantio nos períodos quentes do dia. Irriga-se após o transplantio.


Espaçamento utilizado na semeadura direta e no transplantio varia conforme o objetivo e condições edafoclimáticas. Espaçamento menor produz mais por área; espaçamento maior produz frutos de maior tamanho. Em épocas quentes, utiliza-se espaçamento maior. Tratos culturais influenciarão o espaçamento utilizado.


Recomenda-se 2,0 a 3,0 m entre linhas; 0,50 a 1,50 m entre plantas; população variando de 2.800 a 10.000 plantas/ha.


Plantios irrigados por aspersão: 2,0 x 1,5 m.


Plantios irrigados por sulco ou gotejamento: 2,5 x 0,5 m.


Para manter a umidade e proteger as plantas, utiliza-se mulching ou mantas agrotéxteis (tecido não tecido - TNT) com irrigação por gotejamento. Os orifícios no plástico são feitos após o transplantio. Mantas agrotéxteis são colocadas sobre as mudas, sem estrutura de sustentação, permanecendo por 3 a 4 semanas. Após este período são retiradas para as flores serem polinizadas e são utilizadas para protegerem do ataque de insetos transmissores de vírus.



Variedades


São utilizados híbridos e variedades de polinização aberta nas lavouras de produção comercial.


A vantagem dos híbridos são: precocidade, vigor de plantas, maior número de flores femininas, maior número e uniformidade dos frutos, maior resistência a doenças.


Desvantagens: custo elevado, dependência de empresas de sementes.


Híbridos triploides produzem frutos com vestígios de sementes (quase sem sementes). A ausência da semente no fruto da melancia o torna diferenciado e com melhor preço de mercado. O custo das sementes pode ser até 4 vezes maior que o custo de semente híbrida diploide.


Principais características



  • Produtividade: em função do número de frutos/ha e peso médio dos frutos, varia conforme o cultivar.

  • Teor de açúcar: deve ter mais de 10% de açúcares totais.

  • Coloração interna: preferência por vermelha intensa, mas pode ser branca, amarela ou vermelha.

  • Tamanho: 10 a 15 kg propiciam melhor cotação comercial. Mini melancias apresentam peso menor que 5 kg e se destacam no mercado japonês, americano e europeu.

  • Formato: redondo, oblongo ou alongado, predominante o oblongo por facilitar o transporte.

  • Coloração externa: exigência de verde claro ou escuro com ou sem listras.

  • Firmeza: importante para conservação pós-colheita. Alta firmeza permite o transporte por longas distâncias.

  • Sementes: com ou sem, caracteres herdáveis e de fácil seleção.

  • Vigor: propicia melhor cobertura e proteção contra queimaduras do sol.

  • Floração e maturação: número de dias para o florescimento e maturação define como será a colheita.

  • Resistência a doenças e pragas: não existe cultivar com resistência a pragas, contudo para uma ou mais doenças já está disponível no mercado.


Caracteres desejados da planta ou fruto de melancia podem ser adquiridos com cultivares crioulos, antigas, atuais e introduzidas de outros países, para então serem cruzadas e selecionadas.


Cultivares


As cultivares são classificadas em grupos, caracterizadas quanto ao tipo, ciclo, oBrix, resistência a doenças e ao transporte.


As principais cultivares são:


Americanas (frutos alongados e tempo médio de maturação 105 dias):



  • Crimson Sweet: resistente ao transporte

  • Madera

  • Congo

  • Charleston Gray

  • Rubi AG-08


Outros:



  • Jubilee

  • Omaro Yamato

  • "Mini melancias" e "melancias sem sementes": baixa resistência ao transporte, ambiente controlado, alto valor agregado, alto custo de sementes, produzem frutos em 60 dias, preço elevado no mercado.


O mercado de cultivares é 100% híbrido e toda semente de melancia comercializada no Brasil é estrangeira, criando dependência externa. Necessita-se cultivares resistentes à maioria das doenças e pragas nacionais, principalmente viroses.


É recomendado utilizar mais de 3 cultivares nas áreas comerciais de melancia, aumentando a resistência a pragas, dividir tempo de colheita e doenças e reduzindo perdas.



Condições do Solo e Fertilidade


A cultura da melancia têm grande demanda por nutrientes durante o período de crescimento de frutos, especialmente potássio, nitrogênio e cálcio.


O manejo ideal do solo abrange práticas simples e fundamentais, técnicas e estratégias de alta produtividade, sem comprometer a sustentabilidade do solo. Ao realizar preparo contínuo do solo, compacta-se, reduz a CTC e teores de matéria orgânica no solo.


Recomenda-se 5% de matéria orgânica no solo e 48% de minerais.


Práticas conservacionistas como:



  • Menor revolvimento do solo;

  • Utilizar resíduos da cultura anterior;

  • Romper camada adensada com escarificador curto de máximo 15 cm de profundidade;

  • Monitorar periodicamente a área, avaliando a cada 3 ciclos de preparo;

  • Evitar áreas que tenham sido cultivadas com outras cucurbitáceas (abóbora, moranga, pepino, melão) ou solanáceas (batata, tomate, berinjela, jiló, fumo) nos últimos 3 anos;

  • Rotação de culturas com gramíneas (milho, sorgo, arroz, trigo e aveia), leguminosas (feijão e soja) e aliáceas (cebola e alho).


O pH entre 6,0 a 6,5 ou saturação de bases (V) de 70% é favorável para a melancieira.


A salinidade deve ser monitorada constantemente. A melancia possui tolerância moderada, com valores de CE de no máximo 2,0 dS m-1. A correção do solo salino é realizada através de sistema de drenagem, com lâmina adicional de água, e uso de continuado de culturas que retiram os sais do solo.


A cultura da melancia necessita de 17 elementos nutricionais, macro ou micronutrientes. Devido a este fator e pela planta absorver mais facilmente íons de amônio (NH4), recomenda-se a utilização de composto como adubação e chá de composto como fertirrigação, inclusive como solução foliar. A cultura possui alta demanda de K, N, Ca e P.


A análise química do solo, calagem e uso de fertilizantes são essenciais para adição e restituição de nutrientes no solo, evitando-se excessos.


Para coletar amostras de solo na área a ser plantada, segue-se as recomendações práticas: (1) separar a área em glebas homogêneas quanto à vegetação, relevo, tipo solo (cor, textura), histórico agrícola da área, drenagem etc.; (2) retirar 20 amostras simples para cada hectare para formar uma amostra composta; essas amostras deverão ser coletadas em ziguezague, obedecendo-se à profundidade da camada arável 20 cm; retirando meio quilo para o envio ao laboratório, embaladas e identificadas.


Até os 15 dias, a absorção de nutrientes pela cultura é lenta, entre 30 e 60 dias, início do florescimento e crescimento dos frutos, a taxa é maior.


Correção em cova e adubação (plantio e cobertura): recomenda-se 50 g de calcário; 120 - 250 - 200 de N - P2O5 - K2O (kg/ha) para alta produtividade.


A adubação se divide em plantio/fundação e cobertura, podendo ser sintético ou orgânica. Para solos arenosos utiliza-se 3 a 8 L de adubo orgânico por cova de melancia e metade para solos argilosos.


Adubação de cobertura pode ser convencional (divide-se em duas aplicações) ou fertirrigação (parcelada quantas vezes forem necessárias), com nitrogênio e potássio, e é feita de acordo com a fertilidade do solo e necessidade dos estádios de desenvolvimento da planta. A primeira aplicação é realizada até 25 dias após o plantio, com 70% do N e 40% de K2O; a segunda aplicação é feita em 45 dias após o plantio, aplicando o restante dos nutrientes recomendados.


A fertirrigação deve ser feita em 50% do tempo de irrigação, durando em torno de 120 minutos, variando conforme a necessidade da cultura e características do solo. São 30 min para enchimento da tubulação; 60 min para aplicação da solução fertilizante, e 30 min finais para lavagem da tubulação. Na fertirrigação utiliza-se ureia e cloreto de potássio (KCl) como fontes de nutrientes. Para solos arenosos a fertirrigação é realizada a cada 1 ou 2 dias.


O plantio direto é uma prática eficiente na manutenção e incremento da matéria orgânica do solo, juntamente com o não revolvimento do solo, rotação de cultura utilizando espécies fixadores de nitrogênio (leguminosas) e outras rica em carbono (milho). Em áreas com baixo teor de matéria orgânica, complementar com esterco ou composto (50 ton/ha).


Diagnose Foliar possibilita avaliar o estado nutricional da cultura, sendo uma ferramenta importante de monitoramente, corrigindo deficiência da adubação de base. Deve-se:




  1. Padronizar a amostragem, preparar as amostras e analisar quimicamente o tecido;




  2. Obter de padrões de referência;




  3. Interpretação dos resultados analíticos.




Os resultados obtidos devem ser comparados com a análise de solo e histórico de adubação da área para reduzir a variação no resultado final.


O excesso de fertilizantes afeta o desenvolvimento e produtividade da cultura, causando desequilíbrio de nutrientes e causando danos ambientais e desperdício de recursos.


Irrigação



  • Aspersão de porte médio e do tipo canhão: maior eficiência, facilidade de manejo e utilizados em diferentes tipos de solo e topografia; propicia maior ocorrência de doenças foliares e de frutos e infestação de plantas invasoras.

  • Sulcos: menor custo de implantação, menor ocorrência de doenças foliares e menor infestação de invasoras; requer maior mão de obra, apresenta baixa eficiência caso o terreno não seja nivelado e sistematizado (infiltração do solo, vazão de água, comprimento e tempo de irrigação com base técnica). Sulcos são feitos próximo às plantas, em curva de nível em terrenos inclinados.

  • Gotejamento: maior eficiência, economiza água; alto custo de implantação. Deve-se utilizar fertirrigação para ganhos de produtividade. O espaçamento entre plantas e a área molhada pelo gotejador definirão a quantidade/espaçamento de gotejadores por cova.



Manejo de Plantas Invasoras


É necessário conhecer as plantas invasoras da cultura da melancia, servindo como orientação para quais métodos e quando serão utilizados.


Deve-se entender os momentos de intervenção para que a cultura fique livre de competição e manejo de plantas daninhas:



  • Semeadura e transplantio;

  • Momento em que espécies invasoras se reproduzem e disseminem propágulos (sementes, rizomas, tubérculos, etc);

  • Fechamento da cultura, evitando perda de produtividade.


Basicamente, maneja-se no plantio e a partir do 9º ao 13º dia após a emergência, acarretando em boa produtividade da cultura.


Métodos:



  • Preventivo: limpeza de equipamentos, ferramentas e implementos; utilização de sementes com alto grau de pureza e livres de propágulos de plantas daninhas; erradicação de infestação em canais de irrgação e margens das estradas com acesso à lavoura.

  • Cultural: plantio de cultivares adaptadas ao clima e solo; uso de sementes de boa qualidade; preparo adequado do solo; rotação de culturas; transplantio de mudas com sistema radicular bem desenvolvido; adubação de base e de formação balanceadas; transplantio e semeadura em época recomendada; utilizar espaçamentos e densidades adequados para diferentes cultivares; emprego adequado da irrigação; cobertura morta de culturas anteriores e consorciadas, reduz de forma adequada a densidade das plantas daninhas durante o ciclo da melancia e reduzindo as capinas necessárias; adubação verde com leguminosas e espécies de decomposição lenta melhoram o sistema de plantio direto; o plantio direto necessita de rotação de culturas, ausência de revolvimento do solo e manutenção dos resíduos vegetais; mulching/cobertura morta com casca de arroz ou café, serragem, maravalha, sabugos triturados, acículas de pinus, aparas de grama ou palhada de capim podem ser utilizados, também a cobertura filme de polietileno (mulching sintético).

  • Mecânico: tração humana, animal ou tratorizada, contudo expõe o banco de sementes do solo à luz, temperatura e umidade e quebra a dormência. A quantidade de manejo mecânico está relacionado com o desenvolvimento da cultura e determina o número de operações necessárias até a cultura da melancia sombrear o solo.

  • Químico: método mais difundido, atinge alvos que a tração não alcança; elimina e reduz riscos de danos à cultura da melancia. Entretanto a melancia é sensível a maioria dos herbicidas, recomendando-se caldas/preparados orgânicos.

  • Integrado: vários métodos de controle (preventivo, cultural, mecânico e químico) utilizados em conjunto. O fundamental é evitar o estabelecimento, produção e disseminação de propágulos de plantas invasoras. Medidas como rotação de culturas, utilização de cultivares competitivas e adaptadas, uso de plantas de cobertura com potencial alelopático, são de grande sucesso. Priorizando métodos preventivos e culturais, reduz medidas mecânicas e químicas de controle, resultando em menores gastos de mão de obra. Um programa de manejo integrado de plantas daninhas consiste em 4 fases: diagnose do problema; avaliação e planejamento dos métodos disponíveis. estruturação do programa de manejo considerando rotação de culturas; execução do programa e avaliação dos custos e benefícios.


Doenças e Pragas



  • Tombamento de mudas (Rhizoctonia solani, Fusarium, Pythium, Phytophtora): ocorre em reboleiras e ataca raízes e colo das plantas, causando podridão e estreitamento do caule. O controle é feito utilizando água de boa procedência, evitando excesso de umidade no solo/substrato, e bandejas e substratos esterelizados. Evitar plantar em terrenos compactados, sujeitos a alagamentos e não irrigar em excesso durante no início do estabelecimento da cultura.

  • Murcha e podridão de fitófitora (Phytophthora): murcha a folhagem e apodrece a base e fruto da planta. Sobrevive nos restos de cultura. O controle é feito plantando em terrenos drenados, evitando excesso de irrgação e utilizando plantio direto ou cultivo mínimo. Evitar campos cultivados com solanáceas previamente.

  • Murcha de fusário (Fusarium): amarelecimento das folhas, murcha e morte precoce, em reboleiras. Disseminado através de sementes contaminadas e água de irrigação. O controle é feito utilizando cultivares resistentes.

  • Cancro da haste ou crestamento gomoso (Didymella bryoniae): ataca todos os órgãos da planta, apresentando manchas escurecidas, necrosando-os e resultando em tombamento e morte. Controla-se eliminando restos de cultura, fazendo rotação de culturas com plantas não hospedeiras, utilizando sementes certificadas e tratadas, manejando adequadamente a irrigação e evitando encharcamentos.

  • Oídio (Oidium): afeta as folhas com pó branco, secando-as. Utilizar cultivares resistentes e fungicidas à base de enxofre.

  • Antracnose (Colletotrichum): causa manchas amareladas transparentes, escurecendo depois. Utilizar cultivares resistentes, e sementes certificadas.

  • Mancha de alternária (Alternaria): manchas pequenas de coloração marrom.

  • Mancha de cercóspora (Cercospora): manchas arredondadas com centro claro.

  • Míldio (Pseudoperonospora): causa manchas angulares, amarelas e translúcidas.

  • Mancha-bacteriana (Acidovorax avenae): manchas encharcadas na casca do fruto. Utilizar sementes certificadas e mudas sadias, evitar plantio em período chuvoso.


De modo geral, deve-se:



  • Escolher áreas de plantio que não possuam histórico de doenças;

  • Ao realizar a rotação de culturas, evitar solanáceas previamente a rotação;

  • Medidas preventivas possuem um melhor custo benefício;

  • O preparo, adubação e condições do solo nutrem bem a planta, que são mais resistentes às doenças;

  • Irrigar evitando o excesso de água no solo;

  • Plantar sementes e mudas sadias e tratadas;

  • Controlar insetos transmissores através de monitoramento, iscas e abrigos para inimigos naturais;

  • Eliminar plantas doentes da área;

  • Eliminar plantas infestantes e fontes de vírus/inseto vetor;

  • Utilizar cultivares resistentes e possivelmente mais de 3 cultivares por lavoura, aumentando a resistência a doenças;

  • Desinfetar equipamentos e materiais;

  • Evitar lavouras sucessivas e permanência de restos culturais em campo;

  • A consorciação com crotalárias e cravo-de-defunto (Tagetes spp.) possuem efeito nematicida;

  • A matéria orgânica, como torta de mamoma, restos de brássicas, bagaço de cana de açúcar, estercos curtidos e cobertura verde ou morta reduzem populações de nematóides e fungos do solo.


Pragas:



  • Pulgões: encarquilhamento de ponteiros e transmitem vírus.

  • Trípes: pontuações escuras e aspecto queimado.

  • Broca das cucurbitáceas: murcha de folhas e brotos novos.

  • Mosca-branca: branqueamento, amarelecimento e amadurecimento irregular dos frutos.

  • Lagarta-rosca: corte de plantas novas.

  • Mosca-minadora: injúrias na folha.

  • Vaquinhas: furos nos cotilédones, plantas atrofiadas.

  • Formigas cortadeiras: corte de folha em formato meia lua.


Manejo integrado de Pragas divide-se em 3 etapas:




  1. Avaliação do agroecossitema: principais características do sistema de produção adotado e avaliação da infestação das pragas-chaves. Monitora-se população de pragas, inimigos naturais das pragas, estádio fenológico da melancia e fatores (clima, práticas culturais, etc) que influenciam o ataque de pragas, populações de inimigos naturais e suscetibilidade das plantas à infestação. Divide-se áreas grandes (maior que 4 ha) em talhões menores, realiza-se amostragem semanal no cultivo, verificando ocorrência de pragas, focos de infestação e necessidade de controle. Cada amostragem percorre-se o cultivo em zigue-zague, examinando 20 pontos para áreas de até 2,5 ha. Placas amarelas e azuis adesivas na altura do dossel ou bandejas amarelas e com água nas entrelinhas são eficientes.




  2. Tomada de decisão: com base nos dados obtidos no monitoramente, toma-se decisão analisando aspectos econômicos da cultura, perdas potenciais e a relação custo/benefício dos métodos de controle. Considera-se população e atividade de inimigos naturais (ovos predados, indivíduos parasitados/mortos por microrganismo). A presença de praga no cultivo não significa danos na cultura.




  3. Seleção de método de controle: mudas em local protegido; cultivares de ciclo curto; adequar época de plantio fora do pico das pragas; mudas sadias e vigorosas; isolar talhões por data e área; plantar contra o vento; implantar barreiras vivas ou consórcios; aumento da densidade de semeadura/plantio; utilizar manta TNT nas plantas; cultivos intercalares (policultivo) com não hospedeiras e atrativas de inimigos naturais; manejar a nutrição com análise do solo e foliar; evitar estresse hídrico; cobrir o solo; painéis e armadilhas adesivas de cor amarela e azul; aspersão para controle mecânico; eliminar plantas silvestres e infestantes; realizar sucessão e rotação de culturas; remover plantas atacadas; adotar vazio sanitário; plantas com flores na bordadura; plantas repelentes (coentro, tagetes, hortelã, calêndula, mastruz, artemisia, arruda); plantio direto; preservação das matas nativas próximas; defensivos de baixo impacto (extratos vegetais, óleos e caldas); liberação de inimigos naturais; plantas atraentes (abobrinha italiana) com inseticidas na bordadura.





Pós Colheita


Ao escutar um som "metálico batendo a mão no fruto, indica imaturidade. O som "oco" indica frutos maduros.


O método mais confiável é retirar amostrar ao acaso e cortar alguns frutos para inspeção visual do interior, checar aroma, cor e sabor.


Na colheita, cortar o pedúnculo do fruto com faca afiada e higienizada.


Para o armazenamento por longos períodos, o refriamento rápido é indicado, utilizando ar forçado e resfriando até 10ºC em até 24 horas após a colheita.


A temperatura de armazenamento deve ser de 10 a 15ºC e não deve-se armazenar junto de frutos e hortaliças que produzam etileno.


Temperaturas abaixo de 10ºC causam injúrias por frio.


Elimina-se frutos com sintomas de doenças e outros defeitos.


O transporte deve ser em caixas desenvolvidas para este fim, acomodadas em "pallets", possivelmente refrigerados. A carroceria do dos caminhões deve ser forrada com papel ou palha.


A melancia pode ser vendida in natura ou minimamente processada em formato de cubos e embaladas em plástico rígido (PET).


Produção de Sementes


Utiliza-se a técnica de emasculação como a macho esterilidade para obter híbridos diploides ou tetraploides (que são usados para obter híbridos triploides, sem sementes).


A melancia possui flores femininas, masculinas e hermafroditas e é uma espécie alógama, necessitando de insetos polinizadores (vespas e abelhas). A distância mínima de isolamento para produção de sementes entre cultivares é de no mínimo 1 km, sendo recomendado distâncias maiores.


As sementes possuem alta variabilidade, principalmente das híbridas. Por isso deve-se utilizar bandejas para produção de mudas e cultivo protegido. A temperatura ótima para germinação é de 25 a 35ºC. A melancia é intolerante a geadas. Condições secas favorecem a produção de sementes de melhor qualidade fisiológica e livre de doenças.


Deve-se desenvolver um programa preventivo sanitário, inspecionando o campo em períodos críticos para confirmar presença de sintomas com testes específicos em laboratórios.


A área destinada à produção deve ser diferente da área cultivada com melancia ou outra cucurbitácea em um período de pelo menos 4 a 6 anos, evitando histórico de doenças como fusário e antracnose. Deve ser área com solo de textura média, arenoso, profundo, bem drenado, nutrientes balanceados, acidez média na faixa de pH 5,5 a 7,0. Recomenda-se de 2 a 6 colônias de abelhas por hectare, principalmente Apis mellifera e Trigona rufricus, com distância de no máximo 200 m da cultura, com as caixas direcionadas para o leste. Ao utilizar defensivos, somente ao final da tarde e cuidado na fase do florescimento.


O espaçamento no campo de produção de semente é maior que o utilizado na produção comercial, para facilitar inspeções de campo e realizar o roguing (eliminação de plantas indesejáveis).


Recomenda-se 3,0 x 0,8 m, com uma planta por cova (4.166 plantas/hectare), variando em função de cultivar, época do ano, sementes triplóides usando linhas tetraploides. Em campo aberto não se faz poda ou desbaste de frutos.



Irrigação preferencialmente por gotejamento ou infiltração em campos de produção, evitando molhar folhas e reduzindo ataque de doenças. Sistema floating (piscinas) em casa de vegetação, com boa circulação de ar e baixa umidade relativa.


Durante o roguing, e antes da antese, considera-se características como hábito de crescimento, presença de tricomas, tamanho e coloração das folhas e flores (fenotípicas e fenológicas). São no mínimo 4 inspeções nos estágios de crescimento vegetativo e antes do florescimento. A segunda inspeção é no florescimento com o fruto não desenvolvido. A terceira inspeção é durante a frutificação, observando coloração dos frutos. A quarta inspeção os frutos são observadas novamente, antes da colheita. O roguing pode se estender durante o desenvolvimento dos frutos, com eliminação de frutos de polinização aberta e que não foram marcados, eliminando plantas fora do padrão da cultivar e com sintomas de doenças, principalmente transmitidas por sementes. A operação deve ser feita em todo o campo de produção, garantindo que todos os frutos e plantas correspondentes ao tipo, e os frutos não originados do cruzamento correto, sejam eliminados o mais cedo possível, evitando misturas varietais e inutilizando a produção do campo.


Parentais


Aspectos como a facilidade dos cruzamentos (linhagens com somente flores femininas no progenitor feminino) e produtividade das sementes (linhagens maternas de alta produção) são recomendadas. Para híbridos diploides há duas opções:


a) eliminar flores estaminadas de linhas maternas durante a polinização manual e utilizando as flores da linha partena. São selecionadas flores femininas do parental feminino e antes da antese, coberta (com envelope de papel ou fechadas com clipes) para serem polinizadas no dia seguinte com flores masculinas do projenitor masculino.


b) utilizar parental feminino macho estéril e parental masculino monoico (somente 1 sexo por planta), polinizando com abelhas após eliminação de plantas férteis detectadas durante o transplante. Utilizar plantas férteis (de maior vigor e presença de tricomas) e machos estéreis (sem tricomas e presença de flores na folhagem).


Para produção desses híbridos diploides, utiliza-se 1:4 de plantas masculinas:femininas. Recomenda-se semeadura direta no campo, 10 a 15 dias antes do transplantio da linha feminina.


A hibridização (início dos cruzamentos) é após 50 dias do transplantio, em torno de 60 dias da semeadura, dependendo do clima. O cruzamento por abelhas se dá em linhagens monoicas dos parentais, ou monoica na linhagem feminina, intercalando 2 a 4 fileiras de parentais femininas com uma de masculino, eliminando todas as flores masculinas do progenitor feminina, procedimento que ocorre até o estádio de botão floral. Em caso de parental feminino andromonoico (flor masculina no parental feminino), as flores masculinas também são eliminadas antes da abertura.


Em linhas maternas com flores hermafroditas, retiram-se os estames (emasculação), utilizando pinças e flores fechadas, com pétalas esverdeadas. Pode-se colocar um saco de papel manteiga no dia anterior à abertura, ainda existindo risco de polinização prévia à antese. Flores masculinas podem ser amarradas para garantir quantidade de pólen e cruzamentos são feitos após 24 h da emasculação, colocando até duas flores masculinas para cada feminina, nas primeiras horas do dia e tocando no ovário das flores. Protege-se as flores após a polinização e com bom treinamento pode-se fazer até 400 flores/dia. Cruza-se no máximo 4 flores/planta, visando colher até 2 frutos, flores polinizadas são etiquetadas e marcadas.


A produção pode ser feita em cultivo protegido para linhas de parentais ou híbridos experimentais. A condução é vertical e com espaçamento de 0,8 x 0,6 m, buscando maior número de flores hermafroditas ou femininas e após a 6ª folha verdadeira, faz-se a condução do ramo secundário mais vigoroso. Assim que os frutos ganham peso, utiliza-se suporte (saco de ráfia) para sustentação.


Para produção de triplodes (sem sementes/seedless) utiliza-se linhagens endogâmicas tetraploides como progenitor feminino e linhagens endogâmicas diploides como progenitor masculino, onde o cruzamento não produz sementes. O parental tetraploide (4N) é a mãe, e o parental diploide (2N) é o pai, que são tratados com colchicina. A planta 4N cruzada com uma planta 2N resulta em plantas triploides, ou seja, 3N (poucas sementes). Para produzir melancias sem sementes destinadas ao mercado, as plantas triploides (3N) necessitam de pólen, precisando plantar outros cultivares de melancia, que fornecerão o pólen para as flores das plantas triploides através das abelhas.


A colheita é feita manualmento, selecionando frutos maduros, bem formados, de coloração específica do cultivar, sem defeitos graves e sintomas de doenças. Em campos de produção de sementes de cultivares de polinização aberta, a colheita é mecanizada em operação que colhe e extrai as sementes.


O ponto de colheita é batendo o dedo nos frutos e escutando o som "oco", coloração da "barriga" da fruta amarela, e quando a gavinha "seca", determinando a colheita de frutos para o mercado fresco. Manuseio cuidadoso com frutos pois podem rachar no caso de impacto ou compressão.


A maturidade das sementes é determinada para cada cultivar e região, considerando o número de dias após antese (abertura das flores), avaliando a germinação e vigor das sementes em diferentes épocas, por exemplo 80% de germinação das sementes (após 4 dias) para realizar a colheita dos frutos. A colheita em estágio correto de maturação resultando em qualidade de germinação e vigor para as sementes.


O armazenamento por alguns dias ou semana, de frutos de cucurbitáceas, melhora a germinação, vigor e extração de sementes imaturas. Extrai-se manualmente ou com máquinas extratoras. Eliminando a mucilagem, separa-se e lava-se as sementes. Em caso de extração mecânica, fermenta-se junto com o suco da melancia, por período de 12 a 24h, em ambiente sombreada e agitando/uniformizando o suco de sementes. Adicionar ácido clorídrico 1% na solução para reduzir transmissão de bactérias, contudo não utilizar em sementes triploides.


Após fermentar, as sementes são lavadas, separando-as de impurezas e limpando-as. As sementes bem formadas afundam no tanque, e sementes chochas e resíduos flutuam e são arrastados pelo fluxo de água.


Centrifuga-se as sementes para secá-las. Também pode-se secar natural ao sol em local ventilado, espalhando-as de forma uniforme sobre tela/tecido fino, evitando aquecimento excessivo. Revolve-se as sementes durante a secagem para evitar empelotamento. Estufas com ar forçado, à temperatura de 32ºC no início e 40ºC no final da secagem, podem ser utilizadas, para que as sementes atinjam umidade de 6%, adequadas para embalamento impermeável.


As sementes não necessitam, mas em caso de beneficiamento, utiliza-se soprador pneumático para eliminação de impurezas e sementes chochas. Máquina de ar e peneiras (MAP) de peneiras: 11 mm; 5,5 mm; 9,5 mm; 6,5 mm são utilizadas, variando entre lotes e cultivares. Mesa de gravidade também é utilizada na eliminação de impurezas.


O tratamento das sementes pode ser película (film coating) possibilita uniformidade, eficiência e visualização no solo. Outro tratamento é o condicionamento osmótico (seed priming), onde são embebidas em solução salina por tempo suficiente para que iniciem processos fisiológicos iniciais, contudo sem emergência da radícula, para então serem manuseadas ou armazenadas.


As embalagens devem ser à prova de umidade, como pouches (sacos aluminizados) ou latas, com grau de umidade em torno de 6%. A semente de melancia necessita de baixa umidade relativa e baixa temperatura para sua conservação, podendo chegar até 8 anos conservadas.


Na avaliação da qualidade de sementes, cada lote deve ser amostrado e passar pelos testes de germinação e pureza. A portaria no. 457, de 18 de dezembro de 1986 estabelece padrões para distribuição, transporte e comercialização de sementes. Os testes são de: emergência das plântulas em campo; do frio, velocidade de germinação; de envelhecimento acelerado (41ºC/48h), determinando o vigor do lote. Para definir pureza (qualidade genética) em híbridos, utiliza-se testes bioquímicos e moleculares. A pureza de 98% de hibridação é aceitável.


A análise sanitária avalia microrganismos associados às sementes. O teste de papel filtro é utilizado para detecção de fungos. O teste de crescimento de plântulas (grow-out test), detecta bactérias, utilizando no mínimo para sua condução. Métodos de Bio-PCR (Polymerase Chain Reaction) substitui o teste de crescimento de plântulas.


O padrão (fatores e tolerância) para distribuição, transporte e comércio de sementes fiscalizadas no território nacional é o seguinte:



  • Pureza (mínimo 250 g): 98%

  • Germinação (mínima): 75%

  • Sementes cultivadas (min 250 g): 04

  • Sementes silvestre (máx 250 g): 04

  • Sementes nocivas (máx 500 g):


a) Proibidas: 0


b) Toleradas: 05


Fontes:


https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/142840/1/CPAF-RR-2016-Cartilha-cultivo-melancia-.pdf


https://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Melancia/SistemaProducaoMelancia/plantio.htm#:~:text=A_época_de_plantio_mais,todo%2C_com_uso_da_irrigação.


https://www.researchgate.net/publication/277993225_219_Organic_Watermelon_Production_Systems_Varieties_and_Weed_Control


https://www.researchgate.net/publication/255607969_A_review_of_production_systems_on_watermelon_quality1


https://www.agrifarming.in/organic-watermelon-farming-growing-practices


https://journals.ashs.org/hortsci/abstract/journals/hortsci/41/4/article-p1080B.xml


https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1115205/1/MelanciaDoc5Doc248.pdf


 

* Clique na foto para ver a imagem ampliada

Cadastrar/Editar Manejo/Produto

* palavras chaves separadas por vírgula. máx. 5