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A Cultura do Lúpulo – Parte 1


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A Cultura do Lúpulo – Parte 1


1. Dados Gerais


> O Lúpulo (Humulus lupulus L.) é amplamente cultivado em diversas regiões do mundo, mas no Brasil é pouco é cultivado (ainda), por isso quase a totalidade do lúpulo utilizado nas cervejarias brasileiras é de origem norte americana ou alemã;


> Os estados brasileiros onde o Lúpulo é cultivado são: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e no Distrito Federal. Diferentes variedades são cultivadas, havendo inclusive uma cultivar brasileira, batizada de “Mantiqueira”, mais adaptada ao nosso clima;


> O lúpulo (Humulus lupulus L.) é uma planta trepadeiras, de um grupo chamado de liana;


> Origem: Locais de clima temperado do Hemisfério Norte;


> Lúpulo europeu tradicionais: característicos pela suavidade e aroma;


> Lúpulo dos Estados Unidos: menos aromáticos e menos suaves;


> Somente cultivamos as plantas femininas, pois elas possuem em grande quantidade uma glândula chamada Lupina, que produzem as substâncias que dão o amargor e aroma do Lúpulo;


O Lúpulo é utilizado na cerveja para dar o sabor e amargor característico de cada variedade, além de auxiliar na conservação da cerveja.


 


2. Características da planta


2.1) Sistema Radicular (Coroa)


> A maior parte das raízes fica entre 20 e 30 cm de profundidade;


> Lateralmente, as raízes podem chegar à 3 metros de distância;


> A coroa (veja imagem 1) é formada por raízes verdadeiras e por raízes falsas (rizoma);


> Raízes verdadeiras 


- tem a função de absorver nutrientes e água, além de promover sustentação da planta.


> Raízes falsas


- São caules subterrâneos chamados de rizoma;


- Os rizomas são mais grossos e suculentos que as raízes;


- Dos rizomas nascem novas raízes e também brotos que dão origem à novos caules e folhas.



Imagem 1: Sistema radicular do Lúpulo (coroa)


Fonte SPÓSITO, 2019


 


2.2) Ramos


> Para se agarrarem e subirem no aparato, possuem pelos aderentes (ver imagem 2);


> Os ramos tem o crescimento indefinido;


> Quando o ramo cresce muito, ele vai ficando com a base com características mais resistentes e mais escuro, recebendo o nome de caule;



Imagem 2: Pelos aderentes dos ramos do lúpulo


Fonte: SPÓSITO, 2019


 


2.3) Flor feminina (inflorescência)


> A inflorescência feminina que é utilizada para a fabricação de cervejas;


> A inflorescência feminina possui maior quantidade de glândulas lupulinas que a masculina;


> Se desenvolvem em ramos laterais;


> Na flor é que encontramos as famosas glândulas lupulina, que são a parte mais importante para a produção de cerveja (imagem 3);




Imagem 3 – Inflorescencia feminina e detalhe das glândulas lupulinas


Fonte: SPÓSITO, 2019


> Além das plantas femininas produzirem mais lupulina, se houver a produção de sementes, a qualidade do produto é reduzida;


> Por isso, não é indicado o plantio de plantas masculinas junto aos cultivos comerciais.


 


3) Variedades


> Diferentes variedades dão diferentes sabores na cerveja;


> As variedades são divididas em 3 grupos: Lúpulo de amargor, lúpulos de aroma e Lúpulos com dupla aptidão;


> Existem mais de 70 variedades;


> Vamos falar somente das mais importantes.


3.1) Lúpulos de amargor


> Admiral: Resistente ao Mildio, usada para produção de cervejas do tipo Extra Bitter, APA e IPA;


> Magnum: Apresenta ampla resistência, usada para produção de cervejas do tipo Ale, Lager, Stout e Pilsner;


> Nugget: resistente a prunus necrotic ring-spot virus, míldio e oídio, usada para produção de cervejas do tipo Ale, Stout, Barley Wine, Saison e Biere de Garde.


3.2) Lúpulos de aroma


> Mantiqueira: Primeira variedade brasileira, lançada em 2014;


> Fuggle: Amplamente utilizada no mundo, utilizada para a produção de cervejas do tipo Ale, ESB, Bitter, Lager e Lambic;


> Cascade: Variedade com maior importância para a cervejaria artesanal dos Estados Unidos, sendo utilizada para a produção de cervejas do tipo IPA e American Ale.


3.3) Lúpulos de dupla aptidão


> Centennial: Utilizada para amargar e aromatizar diferentes tipos de cerveja;


> Chinook: Utilizada para a produção de cervejas do tipo Pale Ale, IPA, Stout, Porter e Lager;


> Northern Brewer: Utilizada para a produção de cervejas do tipo Bitter, English Pale Ale, Porter e Lager.


 


4) Ciclo da cultura


4.1) Fase em dormência


A planta perde suas folhas e galhos morrem;


Sistema radicular continua vivo graças à reserva energética;


Período que não há crescimento da planta;


Duração: do fim do outono até início da primavera.


4.2) Fase vegetativa 


Tem início quando a planta lança novas brotações;


As brotações partem do sistema radicular;


Primavera-verão: Ramos laterais vegetativos são formados;


Verão: Formação de ramos laterais mistos, com inflorescências e folhas. As inflorescências se desenvolvem, recebendo o nome de cone;


Fim do verão e início do outono: colheita das inflorescências;


Outono: fase de dormência (senescência).



 


5) Ciclo produtivo


A origem do lúpulo é de climas temperados (com estações do ano bem demarcadas, onde primavera e inverno são estações mais chuvosas e verão e outono mais secos);


Em climas temperados costuma haver variações de temperatura ao longo do dia, mesmo no verão (com dias quentes e noites mais frias);


Ciclo do lúpulo no Brasil em regiões em São Bento do Sapucaí e Campos do Jordão (SP) – Clima subtropical de altitude:


- Abril: planta entra em dormência;


- Outubro/novembro: Planta sai da dormência e entra em estádio vegetativo;


- Permanecendo 6 meses nesse estádio;


- A planta cresce até o final de dezembro, chegando a atingir entre 5 e 6 metros de comprimento;


- Janeiro: início do florescimento;


- Fevereiro: inflorescências em diferentes estádios;


- Março: Cones (inflorescências) já formadas;


- Final de março e início de abril: colheita dos cones;


- Maturação dos cones: ocorre de forma muito rápida (15 dias).


> O ciclo da planta ainda não é entendido muito bem em regiões onde as estações não são tão definidas (inverno não é tão frio), e também onde a temperatura do ar é quente durante o verão (noites e dias quentes);


> Nessas regiões o ciclo da planta é mais acelerado e ela pode reduzir seu tempo de vida útil, ocorrem surtos de florescimento que atrapalham na hora da colheita e também ocorrem alterações no padrão de qualidade química dos cones;


> A maior parte dos estudos e livros sobre o lúpulo abordam seu cultivo em regiões de clima temperado, por isso é tão importante realizar pesquisas em diferentes lugares no Brasil, para aprendermos o comportamento e manejo da planta em diferentes climas;


 


6) Escala Fenológica do Lúpulo (BBCH)


> As recomendações de manejo e tratos culturais do Lúpulo são dados de acordo com o correto estado fenológico da planta;


> Esses estados fenológicos são divididos em uma escala que vai de 0 (zero) a 87 (oitenta e sete);


> Essa escala se chama escala fenológica BBCH para o lúpulo;


> Esquema reduzido da escala na imagem 4:



Imagem 4: Código dos diferentes estádios de crescimento da planta de lúpulo segundo a escala fenológica BBCH para lúpulo.


Fonte: SPÓSITO, 2019 (apud ROSSBAUER, 1995)


> A escala é formada por dois números. O primeiro se refere ao estádio fenológico da planta e o segundo ponto mostra em que ponto dentro do estádio a planta se encontra:


Fonte da escala: Rossbauer et al., 1995: 


0: Brotação


00 - Dormência: planta sem brotos (sem corte dos ramos);


01 - Dormência: planta sem brotos (corte dos ramos);


07 - Planta com brotos (sem cortes dos ramos);


08 - Início do crescimento da parte aérea (corte dos ramos);


09 - Emergência: primeiros brotos emergem na superfície do solo.


1: Desenvolvimento de folha


11 - Primeiro par de folhas desdobradas;


12 - 2º par de folhas desdobradas (início do entrelaçamento);


13 - 3º par de folhas desdobradas;


1... - Estádios contínuos até. . . ;


19 - 9 ou mais pares de folhas desdobradas.


2: Formação de ramos laterais


21 - Primeiro par de ramos laterais visíveis;


22 - 2º par de ramos laterais visíveis;


23 - 3º par de ramos laterais visíveis;


2... - Estádios contínuos até. . . ;


29 - Nove ou mais pares de ramos laterais visíveis.


3: Alongamento dos ramo principal (caule)


31 - Os ramos atingiram 10% da altura do fio superior;


32 - Os ramos atingiram 20% da altura do fio superior;


33 - Os ramos atingiram 30% da altura do fio superior;


3... - Estádios contínuos até. . . ;


38 - A planta atingiu o fio superior;


39 - Fim do crescimento dos ramos.


4: Emergência de inflorescência


41 - Botões de inflorescência visíveis;


45 - Botões de inflorescência aumentados.


5: Floração


51 - Início da floração: cerca de 10% das flores abertas;


52 - Cerca de 20% das flores abertas;


53 - Cerca de 30% das flores abertas;


54 - Cerca de 40% das flores abertas;


55 - Floração completa: cerca de 50% das flores abertas;


56 - Cerca de 60% das flores abertas;


57 - Cerca de 70% das flores abertas;


58 - Cerca de 80% das flores abertas;


59 - Fim da floração.


6: Desenvolvimento de cones


61 - Início do desenvolvimento dos cones: 10% das inflorescências são


cones;


65 - Cones na metade do desenvolvimento: todos os cones visíveis, cones


macios, estigmas ainda presentes;


69 - Cones com desenvolvimento completo: quase todos os cones atingiram


o tamanho máximo.


7: Maturidade dos cones


71 - Início da maturidade: 10% dos cones são compactos;


72 - 20% dos cones são compactos;


73 - 30% dos cones são compactos;


74 - 40% dos cones são compactos;


75 - Maturidade avançada: 50% dos cones são compactos;


76 - 60% dos cones são compactos;


77 - 70% dos cones são compactos;


78 - 80% dos cones são compactos;


79 - Cones maduros para colheita: cones fechados; lupulina dourada;


Potencial de aroma totalmente desenvolvido.


8: Senescência, entrada na dormência


82 - Cones senescentes: cone amarelo-marrom descolorido, deterioração


do aroma;


87 - Dormência: folhas e caules mortos.”



Fontes:


A Cultura do Lúpulo


KNEEN, R. Small scale and organic hops production manual. British Columbia, 2003.


ROSSBAUER, G. et al. Phänologische Entwicklungsstadien von KulturHopfen (Humulus lupulus L.). Nachrichtenblatt des Deutschen Pflanzenschutzdienstes, Stuttgart, v. 47, n. 10, S. 249-253, 1995.


SPÓSITO, Marcel Bellato et al. A cultura do lúpulo. Série Produtor Rural, n. 68, 2019.


 


 


 


 


 

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