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A cultura do Lúpulo – Parte 2


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 A cultura do Lúpulo - Parte 2


 6) Propagação das plantas


> Deve-se comprar mudas saudáveis de vendedores certificados;


> Mudas não saudáveis são um grande risco para a produtividade;


> Existem duas formas ideais para fazermos mudas: muda de estaca ou muda do rizoma;


> Sobre as mudas por sementes: não são indicadas, porque geram plantas muito diferentes das plantas mães. É utilizada em estudos para o desenvolvimento de novas variedades


6.1) Mudas de rizoma


> Rizomas: são caules subterrâneos da planta;


> Momento da coleta: do rizoma: durante a dormência da planta;


> Fazendo muda - como aumentar a quantidade de rizoma:


- No início do período de crescimento vegetativo da planta, pegar ramos que não serão utilizados para a produção de flores e enrolar eles na base da planta (perto do solo).


- Cobrir esses galhos enrolados com terra. Esses galhos irão virar rizomas;


> Quando a planta entrar em dormência, retirar esses rizomas formados com uma tesoura ou faca esterilizada com água sanitária;


> Cada pedaço de rizoma que será utilizado no plantio deve conter pelo menos entre 15 e 22 milímetros de comprimento e pelo menos 2 gemas;


> Plantio: enterrar bem próximos a superfície na posição vertical (de pé);


> Plantar em vaso (casa de vegetação - mais indicado) ou no campo (menos indicado);



Imagem 5: Rizomas do lúpulo


Fonte SPÓSITO, 2019



Imagem 6: Rizoma retirado para fazer muda


 Fonte SPÓSITO, 2019


 


6.2) Mudas de Estacas


> De um ramo, podemos fazer várias estacas;


> As estacas que possuem melhor enraizamento são as estacas coletadas logo antes da floração (final da primavera/início do verão);


> Utilizar tesoura de poda esterilizada;


> Usar ramos com gemas axilares bem desenvolvidas (porção que fica abaixo do cabinho da folha deve ser bem desenvolvida);


> Fazer cortes como na imagem 7:


-Para fazer uma estaca, cortar logo acima do par de folhas e 5 cm abaixo desse mesmo par de folhas


-Manter somente uma folha, mantendo as gemas axilares, como na imagem abaixo



Imagem 7: estaca retirada para fazer uma nova muda


Fonte SPÓSITO, 2019


> Colocar cada uma das estacas em um recipiente individual ou em uma bandeja; 


> Substratos indicados: turfa, fibra de coco, espuma fenólica e vermiculita;


> Manter estacas já plantadas em nebulização para manutenção da umidade do substrato e para ajudar a planta a se alimentar – fotossíntese;


> Raízes e novas brotações são formadas em 15 dias;


> Transplantar para vaso maior quando muda tiver maior quantidade de brotações e raiz mais desenvolvida;


> Manter mudas em casa de vegetação com trato necessário: irrigação, fertilização e trato fitossanitário adequado;


> Após esse transplante, irão aparecer novas brotações após 4-6 semanas, que é o momento adequado para plantar essas mudas no campo;


 


7) Implantação do pomar


7.1) Escolha da área


7.1.1) Tipo de solo:


> Lúpulo não “gosta” de solo muito argiloso;


> Tipo de solo ideal: franco-arenoso profundo, que mantém a umidade (rizomas não podem ficar muito tempo secos), com pH entre 6,5 e 7, fértil, com acúmulo de matéria orgânica.


7.1.2) Terreno


> Terrenos mais planos são mais adequados;


> Plantio orientado no eixo Norte-Sul;


> É necessário fazer aração e gradagem somente até 30 cm de profundidade;


> Para áreas onde nada nunca foi cultivado, fazer o plantio de adubo verde por 1 ano para condicionar o solo;


> Em áreas prontas para o plantio: realizar correção e adubação do solo a partir da análise de solo (o lúpulo se desenvolve bem com a saturação por bases (V%) próximo de 70%)


> Sempre seguir o padrão já conhecido de época e forma de manejo do solo:


- Aplicar calcário 2 meses antes da implantação do plantio (correção do PH);


- O fósforo não deve ser aplicado juntamente com o calcário;


- O fósforo deve ser aplicado em profundidade, apenas na época do plantio.


7.2) Espaçamento e estrutura de sustentação (tutoramento)


> O lúpulo é uma planta trepadeira que necessita da luz do sol para produzir as inflorescências (os cones) e que cresce até atingir um grande comprimento;


> É necessário montar uma estrutura para o melhor desenvolvimento da planta;


> Observe a imagem abaixo e também a explicação que segue:


 


Imagem 8: Estrutura de sustentação do cultivo Fonte SPÓSITO, 2019


Imagem 8: Estrutura de sustentação do cultivo


Fonte SPÓSITO, 2019


> Espaçamento recomendado para o plantio: 3,5 entre linhas e 1,4 entre plantas (2040 plantas por hectare);


OBS: O maior espaçamento pode ser uma estratégia para aumentar o nível de insolação. Alguns plantios no Brasil tem sido montados com 4m de distância entre as linhas, o que gerou bons resultados;


> Espaçamento dos postes de eucalipto tratado (parte do sistema de tutoramento): a cada 8 metros;


> Sobre o poste: Geralmente de 6 a 7 metros de altura, com 1 metro dentro da terra e 5 a 6 metros fora da terra;


> Os postes de eucalipto são conectados por um fio de arame principal galvanizado de 2mm de diâmetro (ver linhas laranjas na imagem acima). Esse fio sustenta o fio secundário;


> Os fios secundários de arame galvanizado devem ter 1,45 mm de diâmetro e se cruzam com os fios primários (ver linhas azuis na imagem acima);


> O tutoramento da planta é feito por um fio (geralmente de náilon com tratamento que suporta insolação ultravioleta) que liga a planta ao fio de arame secundário (ver linhas verdes na imagem acima);


OBS: cordas de sisal também são uma opção mais sustentável;


> Para a muda “pegar” o fio de náilon, é necessário colocar o cabresto no solo, próximo à muda recém transplantada e enrolar o ramo no fio;


7.2.1) Para cada 1 hectare plantado de lúpulo é necessário:


> 2.200 mudas de lúpulo (200 para replantio);


> 420 postes de eucalipto tratados (6 metros de comprimento e entre 10-15 cm de diâmetro);


> 2.160 m de arame primário (diâmetro: 2 mm);


> 6.800 m de arame secundário (diâmetro: 1,45 mm);


> 64 esticadores de cabo de aço;


> 64 ancoras para fixar o arame no solo;


> 20.000 m de náilon tratado para suportar insolação (ou outro barbante de tutoramento);


> 2.000 cabrestos no solo;


7.3) Preparo das covas


> Raízes da planta: principalmente entre 20 – 30 cm de profundidade;


> Fazer um canteiro (da mesma forma que fazemos com hortaliças), utilizando encanteirador e deixando o solo mais fofo;


> As raízes não devem entrar em contato com o lençol freático;


> O lúpulo não suporta ficar em regiões de brejo (suas raízes morrem sem oxigênio).


7.4) Plantio das mudas


> Para se ter uma boa produção, é necessário plantarmos mudas bem formadas;


> Plantio ideal: utilizar mudas com o mesmo nível de desenvolvimento, que dão ao produtor uma maior uniformidade, qualidade e padrão dos cones, além de economizar tempo do agricultor;


> Outra forma de plantio: Rizomas são plantados diretamente nos canteiros. O lado negativo desse método é que cada muda fica com um nível de desenvolvimento, gerando uma desuniformidade, menor qualidade e padrão dos cones.


7.5) Quebra-vento


> É importante a implementação de quebra ventos, eles evitam perdas produtivas significativas.


7.6) Iluminação


> A implementação iluminação artificial é uma estratégia para “enganar” a planta, que precisa de dias mais longos para produzir mais cones;


> Muitos produtores vêm utilizando essa técnica e estão obtendo bons resultados.


7.7) Adubação:


> Adubação de cobertura é realizada anualmente em três aplicações (outubro, dezembro e final de janeiro);


> A partir do 2º ano da planta, é necessário complementar a adubação nitrogenada na segunda aplicação (novembro/dezembro);


> A partir de dezembro: parar com adubação nitrogenada e entrar com adubação de potássio via foliar (melhores resultados na floração);


> Para melhorar ainda mais a floração: realizar adubação foliar de cálcio (Ca) e Boro (B).


7.8) Adubação Verde


> Vale ressaltar que o lúpulo responde muito bem a adubação nitrogenada;


> A utilização de adubos verdes traz inúmeros benefícios para a lavoura, confira mais sobre adubos verdes aqui;


> Para regiões frias: semear trevo branco (Trifolium reprens), crotalária (Crotalaria juncea), mucuna preta (Mucuna pruriens) ou outras espécies adaptadas a região;


> A cobertura do solo produzida por essas plantas (mulching) é muito importante no período de inverno, quando a planta de lúpulo é podada: protege o solo e mantém a umidade;


> No inverno, quando a planta é podada e fica somente com a coroa exposta; 


> A coroa é de onde vão sair os novos brotos;


> A coroa é muito susceptível à geada e a seca, por isso é importante cobrir essa parte da planta com esterco bovino ou de carneiro durante esse período;


> Atenção: não utilizar esterco de frango (cama de frango) para cobrir a coroa. 



8) Manejo Cultural


8.1) Manejo cultural no 1º ano da planta


> O manejo no 1º ano é diferente, pois a planta não produz com vigor nessa idade;


> Se ocorrer uma produção (pequena): cortar as partes vegetativas que produziram (ramos e galhos) para a seleção de cones;


> Se não ocorrer produção significante no primeiro ano, ou se a planta produzir, mas estiver muito fraca: Deixar as partes vegetativas se desenvolver (ramos e galhos) e, quando aparecerem brotações novas brotações vindas da coroa, retirar as partes vegetativas correspondentes;


> Porque manter a parte vegetativa nesses casos acima: manter a pare vegetativa vai alimentar a coroa da planta, que vai ter mais energia para lançar novas brotações.


8.2) Manejo cultural a partir do 2º ano


> A partir do 2º ano é necessário selecionar as duas brotações mais vigorosas de cada planta;


> Você deve enrolar essas duas brotações mais vigorosas no fio de náilon (ou sisal), para que a planta suba (se não fizer isso, a planta não sobe);


> Realizar vistorias semanais para conferir se os ramos estão enrolados no fio de náilon ou sisal;


> Para que a produção de cones seja ótima, é necessário que a planta alcance um grande crescimento vertical, recebendo luz diretamente nas suas gemas;


> A partir do 2º ano o lúpulo já produz, por isso, na hora da colheita é necessário cortar as partes aéreas da planta e leva-las para a colheita manual dos cones em galpão;


8.2.1) Manejo das raízes


> Deve ser feito o manejo das raízes a cada 2 a 3 anos;


> Ao longo dos anos, as raízes da planta crescem muito e forma um entrelaçado, que é ruim para o vigor das plantas;


> Essas raízes devem ser rompidas com subsolagem de 50-60 cm de profundidade.


 


9) Controle de pagas e doenças


> Como o cultivo no Brasil é realizado em pequena área, havendo poucos relatados de pragas e doenças da cultura;


> Em certas áreas é necessário realizar o controle de formigas cortadeiras, que podem devastar o plantio. Estas devem ser controladas;


Doença mais importante mundialmente: Oídio, causado por Podosphaera macularis, fungo que sobrevive em tecidos vivos. Método de controle: Aquisição de mudas com registro e procedência sanitária; Realizar podas de limpeza quando brotos apresentarem sintomas; aplicar fungicidas indicados para a doença.


 No Brasil, foi relatada a necrose da ponta das brácteas do cone devido a presença do fungo Alternaria alternata, devido a colheita ter sido feita após o tempo ideal. A medida de controle é realizar a colheita no momento correto.


> Caso algum sinal ou sintoma apareça e gere resultados negativos para seu plantio, entre em contato com o assistente técnico rural;



Referências


A cultura do Lúpulo


SPÓSITO, Marcel Bellato et al. A cultura do lúpulo. Série Produtor Rural, n. 68, 2019.


FAGHERAZZI, Mariana Mendes. Adaptabilidade de cultivares de lúpulo na região do planalto sul catarinense, SC. 2020. Tese (doutorado) – Centro de Ciências Agrárias, Pós-Graduação em Produção Vegetal, Universidade do Estado de Santa Catarina, Lages, 2020. 


DODDS, Kevin A. Hops: a guide for new growers. New South Wales Department of Primary Industries, 2017. 


ROSSBAUER, G. et al. Phänologische Entwicklungsstadien von KulturHopfen (Humulus lupulus L.). Nachrichtenblatt des Deutschen Pflanzenschutzdienstes, Stuttgart, v. 47, n. 10, S. 249-253, 1995.


KNEEN, R. Small scale and organic hops production manual. British Columbia, 2003. 


 


 


 

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